segunda-feira, janeiro 15, 2007

Mendigos exaustos...


Já era noite e via imagens passando rapidamente, enquanto as vozes e ritmos misturavam-se e confundiam ainda mais suas idéias (mais um atentado deixou os moradores da zon; a CPI das ambulâncias desta ve; perca 5 medidas da sua cintur; assinando uol você tem muitas van; se ela dança, eu danç; você que é sócio, levante seu envelo; tu canta mal, hein bix; ave maria cheia de graç; enquanto isso o chefe da quadri; por razões de segurança não divul; perca 5 medidas da sua cintu; assinando uol você tem muitas van;
...se soubesses o quanto te amo, não mendigarias qualquer amor assim...; com o novo e ultra-revolucionár). Parece que algo chamou a atenção, volta (...se soubesses o quanto eu te busco, pararia para deixar a minha voz falar...). Continua (...se soubesses o quanto eu te amo, não mendigarias qualquer amor assim; se soubesses o quanto eu te busco, pararia para deixar a minha voz falar...). A estrofe repete-se mais duas ou três vezes, o volume vai baixando e a tela fica preta. Descanso aos olhos, a mente e ao coração. A estrofe insiste: “se soubesses o quanto te amo, não mendigarias qualquer amor assim; se soubesses o quanto eu te busco, pararia para deixar a minha voz falar...”
Sentimento de vergonha, porque afinal andava mendigando amor? Pior: qualquer amor, e ainda que fosse o mais belo deles, seria pouco se comparado aquele do único que soube fazê-lo de verdade. Mendigou qualquer amor quando buscou ser aceito, mesmo não se dando conta do que estava acontecendo. Como flashes’s, vieram-lhe a mente algumas vezes que andara mendigando. Mendigou quando fez o seu melhor apenas para mostrar seus talentos, quando vestiu aquela roupa, usou aquele esmalte e fez questão daquele tênis. Mendigou quando em frente ao espelho não se contentava mais com sua aparência. Mas não foram apenas futilidades, não! Mendigou quando pensou em uma forma diferente de viver, despreocupando-se com a roupa, com o esmalte e o tênis. Mendigou também quando buscara nos livros o conhecimento da história, arte e cultura. Mendigou quando quis ouvir todas as músicas e entendê-las. Mendigou quando quis ser o poeta e o palhaço, quando buscou todos os olhares e todas as admirações. Descobriu que sempre fora como o próprio mendigo que é incapaz de sentir o seu cheiro. Mendigou pelo desprezível diante daquilo já era seu, como o irmão mais velho do filho pródigo, mendigou.
Ah, se soubesses o quanto eu te amo, não andarias assim: mendigando qualquer amor. Ah, se ao menos soubesses o quanto te busco! Cresceu dentro de si um desejo de saber mais sobre este amor que não se mendiga, que apenas recebe e pronto. Amor que nunca se importou em condições para existir. Na sua bula não vem escrito: manter em local fresco, arejado e longe das crianças. Sendo feio, fashion, magro, gordo, amarelo, vermelho, talentoso, ignorante, prostituído ou puro, honesto ou corrupto – serve a todos, sem distinção. Então, porque ainda mendigas qualquer amor, se já tens O amor? Não, não precisava fazer mais nada e era este o descanso que esperou por tanto tempo, o de parar e deixar a voz falar: “tu és meu filho amado”. Isto bastaria.

Débora Arruda

3 comentários:

Débora A. disse...

Olá, Aimê!

Sabe que tudo isso me inspirou a ressuscitar meu blog que existe desde 2004?! ´

Bom, qto aos mendigos exaustos... parece ser um caso que de tempos em tempos ainda preciso trazer a memória. Valeu por ter postado!

Bjs e saudades...

Aimée disse...

Oi Dé!
Com certeza esse foi inspirado, já li várias vezes (tanto que não esqueci mais desde a primeira vez)e sempre fala comigo de alguma forma. Quando escrever mais não esqueça de enviar para mim!
Saudades também....beijos!

Unknown disse...

Meme
eu comentei na foto "mais amigas se vão....ok?
mas vale por todas as fotos
bjim